Especialistas defendem digitalização do setor elétrico para evitar crises

Especialistas defendem digitalização do setor elétrico para evitar crises

A digitalização do sistema elétrico evitaria crises como a atual. E também possibilitaria melhor gestão e eficiência, além de opções de serviços e tarifas, com redução de custos para o consumidor. Empresários e especialistas debateram as razões para o adiamento de uma efetiva modernização na infraestrutura elétrica no País, as tecnologias disponíveis pelas empresas e os exemplos internacionais no Abinee TEC Debates: Modernização da Infraestrutura Elétrica, realizado pela Abinee na terça-feira (5).

Na abertura do evento, o presidente da Abinee, Humberto Barbato, afirmou que a atual crise hidroenergética é uma oportunidade. E acrescentou que ela pode proporcionar assim profundas transformações nas redes de energia elétrica.

“Se por um lado a matriz de geração está mais diversificada e o sistema de transmissão mais robusto em relação à crise de 2001, a necessidade de utilização de energia elétrica hoje é portanto muito maior. O que torna urgente a modernização dessa infraestrutura”, afirmou Barbato.

Ele destacou que, representando os fabricantes de equipamentos para o setor elétrico, a Abinee tem contribuído com o Ministério de Minas e Energia apresentando assim medidas para contornar a situação. “Ações de curto prazo, para passarmos por este momento de crise, e medidas de médio e longo prazo, para evitar novas crises”, disse.

Barbato afirmou que, para além da situação emergencial, a modernização da infraestrutura elétrica deve ser discutida em todos os seus aspectos, a começar pelos medidores inteligentes, automação de linhas, passando pela digitalização das redes e indo até novos serviços, tarifas e formas de comercialização.

Na mesma linha, o diretor da área de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da Abinee, Marcelo Machado, afirmou que todas as ações e pleitos da Associação têm em vista a introdução de tecnologia no setor elétrico. “A disrupção tecnológica que o mundo vive deve provocar uma disrupção na forma de pensar o sistema”.

Ele acrescentou que, apesar de o País dispor de uma matriz diversificada e sistema interligado, a modernização e a digitalização possibilitarão atender às necessidades crescentes e expandidas por parte do consumidor. Além de suportar a demanda mais complexa com a chegada de novas tecnologias.

Três dogmas

Durante o evento, o consultor Cyro Boccuzzi apresentou estudo encomendado pela Abinee sobre o assunto. O trabalho aborda três dogmas que dificultam a modernização e a implementação no Brasil de políticas governamentais claras e específicas.

Segundo Boccuzzi, a desorganização do setor é comprovada, ao longo dos últimos 26 anos, pela sucessiva necessidade de socorro financeiro às empresas distribuidoras para equilibrar as contas do setor. “Foram mais de R$ 455 bilhões no período, o que possibilitaria a quatro implementações de smart grid no País”, disse.

O consultor ressaltou, ainda, o descompasso entre a demanda por parte dos consumidores no consumo de novas tecnologias e a estrutura das redes para atender a essa demanda. “Nossa modernização é fundamental e deveria ser feita de forma sólida, mas está sendo sistematicamente postergada”.

Os motivos para isso estão sustentados em três dogmas, que, segundo ele, “não têm aderência com o mundo real”. O primeiro deles é “quem vai pagar a conta?”. O Brasil tem adiado dessa forma a transformação sob esse argumento e delegado as mudanças às próprias empresas de energia. Estas, entretanto, são ainda remuneradas por modelos regulatórios obsoletos. E que portanto, não estimulam a renovação de ativos tradicionais pelas novas tecnologias com segurança de reconhecimento dos investimentos.  “Na prática, o consumidor de energia já vem pagando assim a conta dos socorros periódicos nas tarifas. Sem que haja um legado e investimentos para a modernização e digitalização. Ou seja, pagamos a conta e não resolvemos o problema”.

Outro dogma diz respeito à noção de que o Brasil já possui a matriz elétrica mais renovável do mundo e por isso não faz sentido ter políticas públicas de descarbonização. Os defensores deste dogma se esquecem que a expansão, principalmente, pelas usinas eólicas e solar dependem de comportamento dos ventos e do sol, e, portanto, não são controláveis. Por isso, a orquestração de seu funcionamento seguro depende de sistemas avançados de gerenciamento e controle, por meio de ferramentas de tempo real do lado da oferta e da demanda.

O terceiro dogma é a regulação que deve assegurar a modicidade tarifária, prioridade entre os consumidores. “Esse é o mais perverso de todos. O consumidor anseia por ofertas e alternativas que atendam às suas necessidades, além de previsibilidade. Hoje, não damos opções aos clientes e o resultado é a conta da modicidade empurrada para o futuro. “Se mantivermos o status quo, continuaremos numa lógica suicida que trará mais encargos e ineficiência”.

Boccuzzi acrescentou que o aumento da pressão sobre as redes elétricas, com o maior uso da tecnologia pelas pessoas, deve priorizar a modernização do sistema. “Esse tema tem que entrar portanto na agenda do governo”.

A expertise da indústria no País

O Abinee TEC Debates contou com a participação de empresas do setor. Elas apresentaram soluções disponíveis e experiências como forma de contribuir para a modernização da infraestrutura elétrica. Participaram as associadas da Abinee: Hitachi ABB Power Grid, Landis+Gyr, Nansen, S&C, Schneider Electric e Siemens. O evento também contou com o apoio da KRJ.

Na ocasião, os representantes falaram sobre as lições do passado que podem ser utilizadas para enfrentar crises energéticas, as experiencias internacionais que podem ser replicadas no País, além de como a digitalização das redes elétricas poderiam contribuir para o atual momento.

Assista ao vídeo do evento: https://www.youtube.com/watch?v=wa-QdarRrpE

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