A transição e a segurança energéticas sofreram o impacto da guerra na Ucrânia. Mesmo assim, as mudanças do clima continuam exigindo a alteração de todo o planeta para uma economia zero carbono. Um dos caminhos está em portanto estabelecer um novo padrão no consumo de energia. Essa foi a discussão proposta por especialistas internacionais que participaram do “Diálogos – Segurança energética em um momento de transição”, no terceiro dia do Congresso da Rio Oil & Gas 2022.
A CEO da OGCI Climate Investments, Dr. Pratima Rangaranjan, defende mudanças radicais no padrão de consumo energético e de matérias-primas em escala global. “Por que precisamos trocar de iPhone a cada oito meses? Isso demanda muito níquel e outras matérias-primas que, em sua produção, consomem petróleo e geram assim emissões de carbono. Metade das emissões da indústria de ferro vem de seu consumo de energia. Precisamos reordenar nossas prioridades de consumo e investimento. E reduzir as fontes de energia, pois não precisamos de tantas alternativas, mas sim de eficiência energética”.
A escritora e jornalista búlgara Irina Slav, que, há mais de uma década, escreve sobre energia e geopolítica, alerta que o quadro é mais sensível na Europa. “Não acredito que a Europa consiga fazer a transição energética, devido à falta de minerais, que em alguns casos já está acontecendo. Não haverá matéria-prima suficiente para seus planos de transição energética nas próximas duas décadas. A transição portanto não acontecerá se não há cobre para produzir cabos elétricos ou painéis solares”, diz ela.
Carlos Pascual, Senior Vice-President for Global Energy da S&P Global Commodity Insights, fez outro alerta: as novas sanções europeias contra a Rússia – pela primeira vez restringindo a compra de petróleo russo, que entrarão em vigor em 5 de dezembro – poderão assim elevar o preço do barril de petróleo a até US$ 150.
“O tempo agora é crítico, porque precisamos funcionar bem e, ao mesmo tempo, pensar no futuro. A mudança climática é real e precisamos mudar nosso padrão de consumo energético”, afirma o executivo.
Num painel sobre a consolidação do posicionamento das empresas independentes de E&P, executivos do setor avaliaram o avanço dos ativos das empresas desde a assinatura dos primeiros contratos com a Petrobras e projetaram crescimento para 2023. O CEO da 3R Petroleum, Ricardo Savini, calcula dessa forma um salto na produção dos atuais 45,2 mil barris por dia para 58 mil, em dezembro do ano que vem.
O presidente da Karoon Energy, Antônio Guimarães, também projetou um aumento na produção. Principalmente devido ao investimento de U$ 300 milhões no campo de Baúna, na Bacia de Campos. Segundo o executivo, com a abertura de dois novos poços, a produção local deve alcançar 30 mil barris por dia.
Combustíveis na transformação energética
Após se transformar em uma empresa privada, a Vibra busca novos caminhos para continuar crescendo. “Após o primeiro momento, fizemos a reflexão para olhar para o futuro. Hoje, o cliente transita para novas energias e entendemos que, à medida que ele realiza esse movimento, nós temos como alavancar essa comercialização com o relacionamento construído”, ressaltou André Natal, CEO da empresa, no CEO Talks.
Marcelo Bragança, vice-presidente de Operações da Vibra, também presente no CEO Talks, disse que o primeiro aprendizado da empresa foi aprender a olhar para fora, para o mercado. “Trouxemos pessoas de outros locais, que viveram outras experiências, e assim promovemos juntos essa mudança cultural. Mudamos o padrão e a forma de internalizar combustíveis. Antes, comprávamos só cargas no Brasil, passamos a comprar fora. Desenvolvemos um modelo de shipping e revimos nossa estratégia de estoque. Além disso, temos 30 milhões de consumidores mensais nos nossos postos e podemos explorar ainda mais possibilidades de negócios com eles”, afirmou.
Compliance
Para o chefe de Governança e Compliance da Petrobras, Salvador Dahan, no painel “Governança, compliance e financiabilidade da indústria de óleo e gás”, não basta só destinar recursos para projetos de ESG. Segundo ele, é portanto preciso garantir que as ações efetivamente tenham o impacto socioambiental. “A governança é o pilar de sustentação para toda essa transformação”, concluiu.
O presidente da plataforma de investimentos BlackRock Brasil, Carlos Tahakashi, disse que a constituição de comitês específicos nos conselhos de administração é uma tendência que pode ajudar no amadurecimento das ações de ESG.