A busca por uma matriz energética mais limpa e sustentável é hoje uma pauta prioritária para qualquer país e o Brasil não foge à regra. Na verdade, podemos afirmar, que no assunto em questão, somos uma das principais referências mundiais. Para se ter uma ideia, segundo dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), registramos, no 1º trimestre de 2023, a maior produção de energia limpa dos últimos 12 anos, com mais de 90% da eletricidade consumida via fontes renováveis.
O mercado de créditos de carbono em alta possibilita uma oportunidade única para o Brasil se consolidar como o ‘pulmão do planeta’. Com vastas áreas de vegetação e potencial para geração de energia limpa, temos a capacidade de gerar uma quantidade significativa de créditos de carbono, que por sua vez podem ser usados para compensar as emissões dos países com maiores níveis de poluição, como os Estados Unidos e as nações europeias – fornecendo assim um mecanismo financeiro adicional para incentivar ainda mais as práticas sustentáveis locais.
Embora a maior predominância seja ainda oriunda de hidrelétricas, nos últimos anos o Brasil vem aumentando a sua capacidade de geração de energia solar. Isso acontece graças às suas condições geográficas únicas, que incluem uma vasta extensão territorial e altos níveis de irradiação solar. Não é à toa que a matriz fotovoltaica já trouxe cerca de R$ 145 bilhões em investimentos ao país desde 2012, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Considerando a taxa atual de crescimento e o interesse crescente do mercado corporativo, é plausível que os investimentos no setor fotovoltaico até 2025 possam dobrar em relação ao valor alcançado na última década, chegando a algo em torno de R$ 280 a 300 bilhões.
Uma das razões explicadas para esse cenário é a transformação digital que está ocorrendo na indústria. Novos modelos de negócios, como o conceito de ‘marketplace’ aplicado por empresas privadas que disponibilizam um modelo de assinatura junto aos consumidores, incentivam a demanda na ponta final.
Pontos primordiais
Até por conta do contexto acima, está evidente que investimentos destinados às matrizes renováveis não devem faltar nos próximos anos. Porém, para que isso de fato ocorra, é fundamental que os caminhos sejam estabelecidos de forma assertiva.
Ou seja, é crucial termos em mente que as aplicações em pesquisa e desenvolvimento de produção de energia limpa precisam ser um dos grandes focos no primeiro momento. Nesse caso, não é preciso apenas melhorar a eficiência dos sistemas de geração de energia, mas principalmente adaptar as tecnologias usadas globalmente às especificidades do contexto brasileiro.
Indo pela mesma linha, a infraestrutura de rede elétrica do país precisa ser modernizada e expandida para suportar a integração eficaz de fontes renováveis. Isso é fundamental para garantir que a energia gerada seja distribuída de maneira eficiente e confiável em todo o território nacional.
Além disso, políticas de incentivo governamentais são mais do que necessárias para estimular tanto a adoção em larga escala quanto a inovação no setor. Tais incentivos podem vir na forma de subsídios, benefícios fiscais ou tarifas preferenciais para produtores e consumidores de energia solar.
Caminhos a serem traçados
Dito tudo isso, o foco em maximizar o potencial das energias renováveis no Brasil ainda enfrenta desafios consideráveis. O processo requer uma abordagem integrada e bem planejada para de fato acontecer. Um dos pontos críticos, por exemplo, é a necessidade de políticas eficazes que vão além da mera implantação de novas fontes de energia. Até porque a integração de tais fontes ao sistema elétrico nacional é imprescindível. Especialmente à luz do recente apagão ocorrido em agosto que atingiu 26 das 27 unidades federativas do país.
Um alinhamento estratégico entre os diversos stakeholders do setor de energia – geradores de energia, distribuidoras, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), consumidores e governo – também é outro fator de suma importância. É necessário que haja uma cooperação entre as partes para que seja facilitada a criação e implementação de políticas mais eficazes e justas para todos. É preciso priorizar o bem comum em detrimento aos interesses de grandes grupos econômicos.
Além disso, parcerias público-privadas podem desempenhar um papel significativo na aceleração do desenvolvimento do setor. Elas podem facilitar investimentos em infraestrutura e pesquisa, minimizando o ônus financeiro sobre o Estado. Ademais, incentivos fiscais destinados à produção de equipamentos para energias renováveis também são medidas fundamentais neste processo. Afinal, estimular a indústria local não apenas impulsiona a economia, como também reduz os custos associados à importação de tecnologia.
A verdade é que a combinação de altíssimos investimentos, metas ambiciosas, fortes políticas nacionais e o emergente mercado de créditos de carbono tendem a criar um panorama altamente favorável para o setor no Brasil. O momento de aproveitarmos a oportunidade com ‘unhas e dentes’ é agora.
Artigo de Roberto Hashioka, CTO da Nextron Energia