Custo é obstáculo, mas setor minero-metalúrgico foca em metas de descarbonização com adoção de tecnologias disruptivas

Custo é obstáculo, mas setor minero-metalúrgico foca em metas de descarbonização com adoção de tecnologias disruptivas

A 8ª edição da ABM Week, realizada em São Paulo, foi palco de uma importante plenária intitulada “Tecnologias Disruptivas em Busca da Descarbonização”. O evento, realizado na tarde do dia 4 de setembro, reuniu líderes e especialistas da indústria siderúrgica para debater as inovações tecnológicas necessárias para enfrentar os desafios ambientais crescentes e impulsionar a descarbonização do setor.

Carlos Daroit, diretor industrial Mini-Mills da Gerdau, patrocinadora da plenária, refletiu em seu discurso de abertura a respeito do tempo necessário para transformações tecnológicas do setor. “Quando falamos em tecnologias disruptivas em busca da descarbonização, lembramos que a indústria do aço segue rotas tecnológicas amplamente consolidadas e as alterações nos processos são lentas, principalmente quando por necessitarem de capital intensivo e longos tempos de maturação. Apesar de importantes avanços tecnológicos terem ocorrido nas últimas décadas, com melhorias de performance e de competitividade das empresas, a indústria do aço necessita de novas tecnologias para atender às crescentes demandas ambientais”, reconheceu.

Com moderação de Erick Bispo Torres, CEO da ArcelorMittal Pecém, a plenária indicou que, embora o setor esteja comprometido com a descarbonização, há necessidade de tempo e investimento para a transformação dos processos. “Essa jornada precisa de atenção, compreensão e direção”, reforçou Torres, que pontuou ainda questões importantes para a descarbonização do setor. “É necessária segurança jurídica, ter capacitação do país para condicionar isso através de leis e condições tributárias para que as empresas gerem empregos associados a isso. Exigirá um investimento no Brasil na ordem de R$ 600 bilhões, a estimativa é de que tenha um aumento de até 80% no valor do aço até 2050, para que a gente consiga caminhar para a descarbonização”, reforçou.

Os participantes também manifestaram preocupação com o uso de energia, pois algumas das tecnologias propostas demandarão mais energia do que os processos atuais. “Até 2050, será necessário seis vezes mais eletricidade, doze vezes mais hidrogênio, duas vezes mais gás natural e 25 vezes mais captura de carbono nos processos para reduzir as emissões”, informou Torres. “Seria preciso dois terços da produção de energia renovável para tornar a indústria do aço verde”, afirmou Paul Tockert, executive vice president of Metallurgy do SMS Group.

Segundo Norbert Petermaier, vice-presidente executivo e head of global sales da Primetals, existem três possibilidades que as empresas podem seguir em direção à descarbonização: eletrificação da produção, evitar diretamente a criação de carbono, captura, armazenamento e utilização de carbono. Para ele, a adoção de energia elétrica renovável, como solar e eólica, na produção também é um dos grandes desafios.

Na questão energética, o Brasil tem alguma vantagem. Petermaier informou que o país está bem posicionado em relação à produção de hidrogênio, mostrando que, em 2030, o custo por aqui deve ser de 2.5 a 2.8 USD por kg, enquanto na Europa, chega a 8 USD. “O Brasil tem de 80% a 90% de energia renovável. Na Europa, só 30% é renovável”, segundo Rolando Paolone, CEO e CTO da Danieli, que cogita o retorno do uso de energia nuclear para viabilizar os processos em algumas regiões. Para ele, o investimento necessário é um dos maiores desafios para a descarbonização. “Há soluções que já estão comprovadas, mas não estão decolando, porque é preciso investir muito dinheiro. Na Europa algumas empresas são subsidiadas pelo governo. Além disso, leva tempo para desenvolver uma tecnologia que funcione e mais tempo para que o mercado adote aquela solução”, afirmou.

Para Itamar Resende, CEO da Boston Metal Brasil, a reciclagem de sucata continuará existindo, pois é a forma mais limpa de produção, mas existe demanda por aço de baixa emissão de carbono. Ele aposta na adoção acelerada de novas tecnologias pela indústria. “Embora a siderurgia seja um setor muito conservador, exemplos ao longo do tempo mostram que adota rápido soluções tecnológicas que resolvam problemas”, exemplificou.

A conclusão do debate, coordenado por Aristidis Betzios, Key Account Manager da Danieli, e Helênio Rezende, consultor do Departamento de Vendas da Paul Wurth/SMS Group, é que a descarbonização é um caminho sem volta, mas as possibilidades e caminhos são diversos.

“O que precisamos fazer, por mais paradoxal que pareça, é transformar a indústria do aço para continuar a ter o mundo que temos”, pontuou Tockert. Ele também ressaltou as especificidades regionais, afirmando que não há um modelo único e universal para todos os países. “Cada país tem recursos específicos disponíveis, então cada um irá adotar soluções que mais se adequem a ele”, refletiu.

A discussão mostrou que empresas de tecnologia estão avançando no campo da descarbonização e o setor siderúrgico já compreendeu as ações necessárias a curto, médio e longo prazo. “No curto prazo, destaca-se o aumento de performance, a identificação de sucata que possa ser transformada e a redução do uso de combustíveis. Paralelamente, tecnologias disruptivas estão abrindo caminhos para a descarbonização. No entanto, é essencial uma proposta clara e única para que o país avance de forma eficaz nesse sentido”, concluiu Torres.

Mais informações: https://www.abmbrasil.com.br/por/evento/abm-week-8-edicao

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