Um bom sistema de iluminação usa cores, texturas e a criação de contrastes de forma adequada para produzir um ambiente com conforto visual. Se trata de um assunto extremamente importante, pois, mal aplicados, estes conceitos podem interferir diretamente na produtividade e na qualidade de vida de quem ocupa o ambiente. Um espaço com iluminação inadequada, por exemplo, pode provocar um acidente de trabalho.
Para obtermos o máximo de conforto visual em um ambiente, devemos especificar produtos com adequada reprodução de cor; evitar lâmpadas ou luminárias que superaqueçam (alterando a temperatura do ambiente); e evitar o ofuscamento direto ou indireto, lembrando sempre que a luz mais confortável para os nossos olhos é a luz natural e que devemos, inclusive, explorar ao máximo, estimulando o consumo real e sustentável de energia.
A iluminação artificial não pode, de maneira alguma, atrapalhar o ciclo circadiano do indivíduo. Este é o ciclo biológico de todos os seres humanos e de quase todos os seres vivos. Se baseia em um período de 24 horas, sendo influenciado pela variação de luz entre o dia e a noite.
Este ciclo biológico, ou como chamamos, ritmo circadiano, regula todos os ritmos psicológicos e materiais do corpo humano e influencia na renovação de celular, controle de temperatura do corpo, digestão e estado de sono. Basicamente, interfere na maior parte dos hormônios que produzimos.
Um exemplo simples dessa alteração de relógio biológico na prática, é um hábito comum nos dias de hoje: utilizar o celular durante o período em que se está prestes a repousar. Essa prática inibe o sono, justamente por decorrência da luz com temperatura de cor mais fria presente nas telas dos celulares, alterando, dessa forma, o estado do indivíduo naquele período do dia (produção da melatonina, o hormônio do sono).
Estamos constantemente em direto contato com a iluminação artificial, que se não for bem projetada, altera totalmente esses ciclos naturais do nosso organismo e também, claro, na nossa produtividade. É um processo natural do corpo acompanhar as fases da luz do dia: pela manhã e ao entardecer (temperaturas de cor mais quentes) são horas, respectivamente, de despertar suavemente ou de começar a produção de melatonina, para então, adormecer. Já durante o dia, e, proporcionalmente, mais próximo do meio-dia (temperaturas de cor mais neutras ou frias), a luz proporciona ao corpo um estado de atenção (ou alerta). Veja a imagem abaixo:
A iluminação do ambiente deve ser adequada à sensação que se pretende passar ao indivíduo. O nosso relógio biológico determina quando devemos nos sentir cansados, em estado de alerta, quando devemos ter fome, além de tarefas noturnas, como limpeza celular e de reparação.
Já existem estudos que comprovam que um organismo exposto durante muitas horas do dia a uma temperatura de cor elevada, como 6500K, pode desregular o relógio biológico e causar um desconforto no organismo, como perda do sono, irritabilidade, ganho de peso, estresse, entre outros.
Quanto ao ofuscamento, é necessária atenção ao contato direto da fonte de luz com o olho humano. O mesmo se aplica a superfícies altamente refletoras, como pisos reflexivos, por exemplo, que podem rebater a luz de uma fonte luminosa em direção à linha de visão do observador.
A escolha correta da temperatura de cor da lâmpada influencia diretamente na sensação que o ambiente transmite, alterando a produtividade e até o humor. Se um mesmo ambiente está destinado a dois usos, o ideal é combinar diferentes cores para ele ou ter uma iluminação inteligente, para que, de acordo com cada tarefa exercida, o sistema ideal seja acionado e desligado ao término da atividade.
A utilização de cores mais frias para ambientes de trabalho, grandes comércios e indústrias e mercados ajudam na atenção, concentração, visibilidade de produtos etc. A utilização de cores mais quentes para áreas de descanso ou descontração, como salas e quartos traz sensação de aconchego.
É também necessário atenção às cores e texturas do ambiente, pois esses fatores afetam diretamente o efeito desejado da luz. Ambientes escuros, por exemplo, absorvem mais a luz. Ambientes mais claros, refletem mais a luz. O mesmo conceito se aplica a superfícies lisas e rugosas. Superfícies lisas têm o poder de refletir mais a iluminação aplicada, enquanto superfícies rugosas tendem a refletir menos. Materiais como vidro têm o índice de reflexão 0%, enquanto os espelhos, 100%.
A temperatura de cor pode influenciar emocionalmente e subconscientemente o usuário a favor dos ambientes comerciais. É usual vermos uma iluminação mais quente e confortável em ambientes onde o propósito é criar um espaço de permanência ao usuário, no qual as pessoas se sintam à vontade para relaxar e permanecer por longos períodos de tempo – como restaurantes, bares e áreas de convívio – induzindo, assim, o consumo no local e, consequentemente, aumentar o número de vendas do estabelecimento por tempo de permanência do cliente.
O contrário se aplica em redes de restaurante do tipo Fastfood que, na maioria dos casos, possui uma iluminação mais fria. Essa escolha é feita justamente para que gere uma sensação de agitação para que o consumo seja feito de forma rápida e, consequentemente, a circulação de clientes seja maior, gerando, assim, mais consumo para as redes.
Duas técnicas, que funcionam em suas diferentes aplicações graças ao auxílio da iluminação e escolha da temperatura de cor correta para cada uso. Esses estímulos visuais interferem na ambiência e no fluxo do espaço, promovendo diferentes sensações dependendo das aplicações.
Residencial
O mesmo conceito se aplica a ambientes residenciais, como a iluminação de uma cozinha, onde precisa-se de atenção e precisão nas tarefas de trabalho. Com isso, para ambientes que envolvam preparo de alimentos, o ideal é uma temperatura de cor mais fria. Em seguida, podemos analisar um ambiente mais aconchegante, de descanso e estar. Nestes casos, devemos optar por temperaturas de cor mais quentes, que promovam a descompressão.
Escritório
Escritórios são ambientes em que os usuários passam grande parte do dia, do início do dia até o fim da tarde. Muitas vezes, esses ambientes não têm contato com a iluminação externa, impedindo a incidência de luz solar, além de terem uma temperatura de cor mais fria, o que altera o ritmo circadiano dos funcionários.
Alguns estudos apontam que o ideal para este tipo de ambiente é um produto específico que tenha variação da temperatura de cor conforme o passar do dia, podendo programar as temperaturas de cor mais quentes para o início da jornada de trabalho e fim de expediente (simulando o nascer do sol e entardecer), e temperaturas de cor mais frias para ao longo do dia, promovendo produtividade e agitação.
O papel de um lighting designer, arquiteto e fornecedor responsável que tenha luminárias de qualidade e ofereça auxílio na escolha de equipamentos com a temperatura de cor ideal para o ambiente projetado é fundamental para o resultado desejado em relação à sensação daquele espaço, trazendo uma melhor ambiência e conforto visual para uma determinada atividade.