Com foco na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a Cop 30, que será realizada em Belém (PA), a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) vem atuando no sentido de ampliar as oportunidades e incentivos para o aumento de sistemas de geração de energia renováveis e sustentáveis, bem como mobilidade elétrica, eficiência energética, geração de emprego, renda e, também, melhor qualidade de vida para comunidades isoladas e remotas, em especial na Amazônia Legal, onde tem grande potencial de crescimento.
De acordo com o conselheiro e diretor de projetos especiais da entidade, Aurélio de Andrade Souza, o Brasil tem possibilidades gigantes de atender às demandas nacionais, tanto na redução das emissões quanto na redução do consumo de inclusão social. Na última conferência, ocorrida em Dubai (Emirados Árabes Unidos) em 2023, o Brasil comprometeu-se a atingir a neutralidade climática até 2025. O país possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, mas tem grandes desafios na transição energética e na expansão da geração de energia.
Inúmeras comunidades, especialmente nos estados da Região Norte e Nordeste, são dependentes de combustíveis fosseis para sua subsistência, como carvão e diesel, e carentes de uma bioeconomia circular que apoiem a manutenção de serviços ambientais. Segundo a entidade, o sistema isolado (Sisol) da região Norte é eletrificada por 180 geradores acionados por diesel.
Para mudar essa situação, a ABGD tem desenvolvido diversas inciativas na região, como o Road Show ABGD Huawei Solar, com capacitação e treinamento de técnicos e consumidores, o Guia de Mobilidade Elétrica Fluvial para Amazônia Legal, participação em eventos técnicos e ações de articulação nos âmbitos público e privado e terceiro setor em favor de políticas públicas favoráveis à energia limpa a renovável. O presidente da entidade, Carlos Evangelista, no entanto, lembrou dos desafios de atuar junto às comunidades da Amazônia, em meio à floresta, às dificuldades de locomoção, formação, investimentos, expansão e manutenção de sistemas energéticos, em contra ponto às necessidades e oportunidade de desenvolvimento regional.
Estima-se que, em 2024, serão gastos R$ 12 bilhões em combustíveis fósseis na Amazônia Legal – Amazônia, Acre, Roraima, Rondônia, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso, o correspondente portanto a 1,6 milhões de litros de diesel. Destaca-se que, desde 2012, observa-se a redução de 21% do uso do produto.
O estado do Pará é um exemplo que ilustra as necessidades do país e o potencial do setor. Com 73 mil sistemas instalados, possui capacidade instalada de 826,25 MWp e investimentos de R$3,5 bilhões no setor na última década, beneficiando pequenas e médias empresas. O país conta com cerca de 3 milhões de sistemas.
No entanto, Belém, sede da Cop30, precisa de infraestrutura, logística, mobilidade, hotelaria e energia limpa para a população, além de tratamento de resíduos, treinamento e inclusão social, segundo Souza. “Essas são áreas de ações transversais da ABGD, que promove o desenvolvimento sustentável das fontes de energia limpa, renovável e distribuída. A energia é um dos principais vetores do desenvolvimento humano e melhoria da qualidade de vida”, completa. A cidade tem 1,3 milhão de habitantes, 90% deles alfabetizados e renda per capita de R$20,5 mil.
Mercado em crescimento
Atualmente, o mercado de geração distribuída (GD) atinge cerca de 26,5GWp no País, que tem 99% dos sistemas de matriz solar. Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) indicam que o consumo de energia brasileira cresceu 3,7%, em 2023, em comparação ao ano anterior, e deverá seguir em crescimento, o que favorece dessa forma diretamente o setor de GD. O segmento residencial responde por 47,95%, o comercial por 28,92% e o rural por 14,65%. Os demais são industriais e de serviços públicos.
A entidade vê como tendencias a composição de sistema híbridos (solar + eólico, por exemplo) e a maior participação de fontes renováveis na matriz de sistemas isolados e isolados remotos (off-grid), favorecendo, também, a sustentabilidade ambiental, redução de gases do efeito estufa e geração de emprego e renda.
O aumento da participação das fontes renováveis é uma tendência na visão da diretoria da entidade. “Um milhão de pessoas, vivendo em comunidades isoladas ou remotas, não têm acesso a uma fonte limpa e moderna de energia, geralmente, atendidas por gerador a diesel. O Brasil está portanto muito atrasado nesse ponto em relação aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas)”, avalia Souza.
O Programa Energias da Amazônia (PEA) do Ministério de Minas e Energia atende tais comunidades. Ele fornece energia solar com bancos de baterias via distribuidores de energia elétrica, cenário que enfrenta a complexibilidade de instalação e logística, que torna lento a expansão do mercado. As metas do PEA incluem a redução do uso de combustíveis fósseis e os custos da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). “O acesso à energia é fundamental para o desenvolvimento humano, social e econômico da Amazônia Legal”, finaliza Souza.